quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Vinicius Nunca Falha

Para mim, a maioria das poesias que existem no mundo não precisaria ter sido escrita jamais. Em primeiro lugar, porque conheço pessoas que trabalham em editora de livros. Sei como é.
É assim: O namorado diz para a moça que ele há pouco saiu de um relacionamento difícil e que não pode assumir compromisso agora. Ela volta para casa com um paralelepípedo no peito, atira-se na cama, põe-se de bruços, os joelhos dobrados, os pés balançando no ar, e suspira e funga e resfolega e, súbito, como se lambida pela língua de fogo do Divino Espírito Santo, vem-lhe na alma a centelha da inspiração. E ela toma de um caderno espiral e uma esferográfica e rabisca furiosamente um poema pranteando seu coração partido. No dia seguinte, lê aquilo e chora. E escreve mais um poema sentido, as lágrimas molhando a folha pautada do caderno. Seis meses, doze ficantes e três namorados depois, ela soma 150 poemas. Lê, relê, julga que aquilo tem o quilate de um Drummond e pinga o título: "(Des) Encantos Meus".
Agora, é só encontrar uma editora com sensibilidade para novos autores. Quer dizer: o editor sofre. E é com base na experiência de um amigo meu, antigo funcionário de editora, que posso afirmar veemente: o editor s.o.f.r.e
Mas até entendo esses fazedores de versos. São tantos sentimentos em ebulição na cidade... O business da questão é pô-los no papel de forma compreensível, o que é difícil; e universal, o que é mais difícil ainda; e agradável, o que parece quase impossível para todos esses milhares de poetas, salvo dois ou três.
Esse é o meu problema com os poetas não-publicados. Ou com os pouco publicados.
Mas também tenho problemas com os fartamente publicados. Que é mais um defeito meu do que deles. É que às vezes não os compreendo! Uma burrice minha, bem sei.
Sou um espírito literal.
Por exemplo, vou pegar um poeta sobejamente publicado e conhecido. Uma, na verdade: Cecília Meireles. Quando Cecília Meireles escreve:

“Brumoso navio
O que me carrega
Por um mar abstrato
Que insigne alvedrio
Prende à idéia cega
Teu vago retrato?”


Quando ela escreve isso, o que ela quer dizer? Não sei o que significa isso, que a carrega por um mar abstrato, que insigne alvedrio prende à idéia cega o tal vago retrato.
Aí está! Freqüentemente, os poetas me colocam nessa situação: eu contemplando minha própria estupidez.
Agora, se for em frente na poesia e conseguir compreender o que é o brumoso navio da Cecília Meireles, chego ao fim do texto e penso: mas que importância tem isso, afinal, para ser cantado em verso?
O meu espírito literal.
Assim sempre foi a minha relação com a poesia. Até que conheci o Laércio. Não se pode dizer que o Laércio fosse um cara bonito. Não era. Bem, não pra mim. Também não era feio, mas estava longe de ser um Deus grego. Tratava-se de um ser comum: não muito alto, não muito baixo; não chegava a ser gordo, nem magro. O cabelo dele ficava entre o loiro e o moreno, o crespo e o liso, o curto e o comprido. Não se podia dizer que fosse inteligente. Mas para burro também não servia. Qual era, então, o segredo do sucesso do Laércio com as mulheres?
Sim, porque o Laércio fazia (e deve fazer até hoje) retumbante sucesso com as mulheres.
As mulheres mais cobiçadas, de pernas mais longas, de lábios mais carnudos, de nádegas mais empinadas; as mulheres que flutuavam em vez de caminhar; que não entravam em lugar algum, mas faziam sua entrada; as mulheres que todos queriam!!!
O Laércio as tinha!
Como, meu Deus? Como??? Resposta: por causa da poesia.
Uma noite, num restaurante em casa-forte junto com um amigo nosso em comum – o mesmo que tinha nos apresentado -, descobri. O Laércio não me via, mas eu o via. E o ouvia. Ele estava jogando aquele “chalalá” para cima de uma loira de um metro e setenta e três. Sei que ela tinha um metro e setenta e três, porque as loiras de um metro e setenta e três são diferentes de todas as outras. O Laércio estava com as duas mãozinhas dela entre as mãozonas dele. Olhava-a com olhos de fogo. E declamava:

“De tudo ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo e sempre e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento”.


Foi quando entendi tudo: a poesia! Comecei a prestar mais atenção nas conversas do Laércio a cada vez que saiamos juntos eu, o Matheus, e o Laércio com as meninas. Percebi que ele gastava 50% do tempo declamando para elas. Fazia gestos, impostava a voz, era o próprio Castro Alves em ação! Laércio, o condoreiro.
Desgranido. Que fazer? O tal ditado americano: se você não pode vencê-lo, una-se a ele. Ou o imite. Foi o que fiz. Comecei a ler poesia com mais critério. Um dia, ataquei uma grande amiga minha de Olavo Bilac em riste:

“Longe de ti, se escuto, porventura,
Teu nome, que uma boca indiferente
Entre outros nomes de mulher murmura,
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...”


Ela fez:
– Uóóó!!!

E, todos sabem, uma mulher, quando apita, é porque está prestes a oferecer seu coração ao homem que a fez apitar. Pois ela apitou. E tudo deu certo... E foi bom... E as estrelas luziram mais coruscantes no céu de Recife (tanto que depois dessa insolência, ela continua minha amiga até hoje – ahahahaha – só sendo mesmo muuuito amiga).
Assim, comecei minha incursão pelo mundo da poesia. Às vezes, assestando um Guilherme de Almeida, noutras, mandava um bom Fernando Pessoa de quebra e, quando tudo parecia perdido, tascava um Vinicius de Moraes.
Vinicius de Moraes não falha.
Passei a amar de poesia depois do Laércio. A compreender mesmo as menos literais, eu, com meu incorrigível e obtuso espírito literal. Qualquer dia desses, quem sabe?, talvez escreva um livro de poemas. Algo que terá um título como (Des) Ferindo. Ou (Des) Amores. Por que não (Des) Afetos? .


PS¹. Laércio, eu bem sei que você lerá isso aqui. E desde já deixo registrado: Sim, obrigado por me jogar (literalmente, como sempre!) num mundo deliciosamente mais poético.

PS². Não Laércio, isso não é uma homenagem a você.

PS³. Saudades suas.











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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Simples Pretensão

Certo dia, conversando com um dos meus irmãos, resolvemos que iríamos abandonar o corte de cabelo a tesoura e passaríamos a cortar o cabelo com máquina. Sempre falávamos sobre a praticidade do corte com máquina e queríamos experimentar.
Pois bem.
Passado certo tempo, perto da época de natal, (nós já estávamos totalmente habituados com a idéia do corte a máquina) comecei a pensar que gastávamos uma fortuna (exagero meu, claro) pra ir a um barbeiro passar a máquina no cabelo. É que um de nossos vizinhos, o Diogo, tinha acabado de comprar uma dessas e nos ofereceu emprestada, para que se caso nos ficássemos interessados, ele nos daria todas as dicas a respeito do melhor modelo, marca, etc.
Nós então - totalmente empolgados - numa tarde de sábado, corremos pra casa do Diogo e aceitamos a oferta que ele havia nos feito. Antes de qualquer outra coisa, pensamos:
“Nossa! A gente aprende a usar e pede pra nosso pai nos comprar uma dessas! Adeus a fila de espera no barbeiro!”
Como meu irmão iria passar o natal e o réveillon com a namorada que ele havia conhecido no carnaval do mesmo ano e até então não tinha a visto mais (calma, a guria é do Rio Grande do Sul, tchê!), me ofereci pra dar um trato na cabelama dele.
“É de graça e é tão simples” – pensei.

- Tem certeza de que você sabe usar isso mesmo?

- Claro! Mais fácil? Impossível!

- Tá bom, então. Olha, o barbeiro passa máquina três geralmente.

- Ah, tá na mão!

(Din-don!) – Péra aí que estão tocando a campainha. – Disse o Diogo – (Minutos depois) - Ah bobagem! Era um pessoal querendo informação. Vâmo lá pro banheiro pra não fazer bagunça na varanda.

- Sento aqui no vaso mesmo?

- É. A altura tá boa pra mim.

- Como é que eu vou ver como está ficando?

- Mas desse lado você não enxerga o espelho mesmo... Que diferença faz?

- É.

- Vai ficar igual! Confie em mim!

Ajustei a máquina. Meu irmão com os olhos fechados, pronto para o estrago.
Sim, estrago. Não sei por que desvio do destino – pode ter sido a campainha – no lugar do pente três coloquei o pente número um. E não sei por que desvio maior ainda, dei a primeira raspada bem no meio da cabeça, na frente! (...)

- Opa!

- O que foi menino?

- Nada não. Fica quieto aí.

Eu não podia me conter. O meu irmão tava parecendo o bozo! Abri um buraco no meio da cabeça dele e logo dei uma olhada rápida pra máquina constatando o meu erro.
Eu ria abafado, as lágrimas escorrendo pelo canto dos olhos. E ele:

- O que merda tu ta fazendo?

- Nada não menino; só comecei pelo meio da cabeça, ficou engraçado...


- Ah, bom...

Nesse exato o momento, o real culpado – o Diogo, claro! – aparece na porta e sai correndo pra se desmanchar em gargalhadas na sala.
E eu, já que havia começado errado, ia assim até o fim. Afinal, eu tinha que entregar o trabalho pronto. Não era bem o que ele queria tampouco o que ele pediu, mas ia ter seu charme... (principalmente porque não era em mim!)
Pra não assustar meu cliente-parente, ou melhor dizendo, paciente, ou melhor ainda dizendo, cobaia, fui falando no finalzinho do corte:

- Tá ligado o que a gente vai ter que fazer quando passar no vestibular?

- Por que, hein, menino?

Pelo tom, notava-se o grau de “satisfação” do rapaz.

- A gente tem que raspar né? Bem curtinho...

- O que você fez?

- Mmmmm... Veja.

- PUTA QUE PARIU!

- Ah, ficou bom... Você tá mais jovem!

- Eu sou jovem, idiota! Eu tô é careca!

- Careca não! Máquina um!

- Mas eu falei que era máquina três!

- É, falou, mas aí não sei por que comecei a cortar com a máquina um que eu iria usar pra fazer o acabamento...

- PUTA MERDA! Luíza vai me achar horrível!

- Vai não! Ficou bonito!

Enquanto isso o Diogo – o real culpado! – rolava no sofá da sala de tanto rir.
Ele – o meu irmão – saiu pisando duro. Aí eu percebi que ele tinha realmente ficado “chateado” (pra não usar outros termos...) comigo.
Antes que ele chegasse em casa, eu liguei e pedi pra minha mãe elogiar o corte de cabelo no exato momento em que o visse!

- Por que, Rodrigo? O que tu fez?

- Eu acho que cortei demais...

Quando cheguei em casa, a confusão tava feita: meus pais e meu irmão chateados comigo por culpa desse “acidente”
Coitado, passou uma semana se lamentando e torcendo pra namorada não dizer logo de cara: “O que aconteceu com teu cabelo?”
Ainda bem que foi sensível e nem comentou nada. Eu fiquei chateado por um tempo, sempre que me lembrava disso... Hoje, eu e ele rimos bastante desse caso...
Ficou de lição o seguinte: mesmo as coisas mais simples, as coisas que parecem descomplicadas; precisam ser feitas com total atenção.
Hoje em dia também, eu consigo separar bem a minha capacidade do meu limite.
Eu sei que o posso fazer... Mas até quando posso? Até quando devo? Será que realmente posso?
E essas perguntas eu levo a qualquer tipo de situação, principalmente, aquelas que eu acho que tenho total domínio.
Seja por pretensão, por desprezo ou pelo o que as situações realmente são e/ou pedem:
A circunspecção.


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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sobre Adriana Calcanhotto


Desde seu nascimento, em 03 de outubro de 1965, Adriana Calcanhotto ouve música de qualidade. Seu pai era baterista de uma banda de jazz e bossa nova, e sua mãe, bailarina. O repertório de músicas ouvidas em sua infância era banhado de Astor Piazzola a Milles Davis e João Gilberto. Ao iniciar seus estudos de música em 1977, teve como influência de seu professor os músicos Tom Jobim e João Donato. Além da música, Adriana é uma assídua leitora de publicações sobre Modernismo no Brasil e em algumas fases da sua vida chegou a largar a música para atuar como ‘performer’ em peças teatrais e se dedicar à composição.
Foi em Porto Alegre, no ano de 1984, que Adriana Calcanhotto iniciou sua carreira profissional de cantora, tocando e cantando em casas noturnas e bares da cidade. Seu show de estréia chamava-se “Crepom”, com direção de Luciano Alabarse. Em 1987 a cantora estreou o show “Nunca Fui Santa”, com composições próprias e músicas de carnaval.
Participou, em Porto Alegre e em São Paulo, de espetáculos em homenagem à Elis Regina e em 1988 estreou o show “Batom”, que na época teve recorde de público. A partir daí, Adriana ganhou projeção nacional, após fazer sucesso com o espetáculo dos melhores momentos de todos os shows já apresentados. Depois do sucesso, a cantora assinou com a CBS e gravou o seu primeiro disco, chamado “Enguiço”, que renderia o prêmio de “Revelação Feminina”, no 4º Prêmio Sharp de Música, além de controvérsias entre os críticos da época, que dividiram suas opiniões sobre seu verdadeiro talento.
Em 1992, Adriana Calcanhotto lançou o 2º disco, intitulado “Senhas”. A música “Mentiras” entrou na trilha sonora da novela “Renascer”, da TV Globo, e estourou em todas as rádios do país. Esse CD abriu as portas para que Adriana fizesse shows em grandes casas de espetáculos, como o Canecão, no Rio de Janeiro, e rendeu ainda o primeiro disco de ouro da intérprete.
Com 10 anos de carreira, a cantora lançou o terceiro disco, o eclético “A Fábrica do Poema”, que em 1994 foi considerado o “disco do ano” pelos críticos de música do Rio de Janeiro e que contava com parceiros como Waly Salomão e Arnaldo Antunes, além dos indispensáveis ‘hits’, como a música “Metade”.
Quatro anos mais tarde, surgiu “Maritmo”, o 1ª de uma trilogia, com as participações especialíssimas de Hermeto Pascoal, Dorival Caymmi, Pedro Luis e a Parede e Waly Salomão.
Em 2000, o CD “Público” - desta vez pela gravadora BMG - foi gravado ao vivo, com quatro músicas trabalhadas em estúdio. O DVD veio para coroar e mostrar o encontro de Adriana com seu público.
O disco “Cantada”, lançado em 2002, também teve participações especiais como Los Hermanos e Daniel Jobim, entre outros. Um álbum com intenção de ser simples e que termina em ousadia.
O ano 2004 marcou a carreira de Adriana Calcanhotto com inovação. Foi o ano de lançamento do CD “Adriana Partimpim”, em que a cantora usou um pseudônimo, utilizado também para o título do disco, feito para crianças, ou como Adriana prefere chamar, “disco de classificação livre”. Esse é o sétimo álbum da carreira e um projeto audacioso iniciado em 1999, que lhe rendeu os prêmios “Faz Diferença” do jornal O Globo, e na categoria “Melhor disco infantil”, o Prêmio Tim.
Com muitas apresentações pelo mundo, Adriana ainda tem projetos paralelos, como a interpretação de “Eu Sei Que Vou te Amar” no filme “Vinícius”, lançado em 2005.
E agora, em 2008, das águas dos mares veio novamente a inspiração para o novo CD da Adriana. Lançado recentemente, o álbum "Maré", oitavo disco da cantora e segundo disco de uma trilogia pelos mares. O trecho referido compõe a música “Quem vem pra beira do mar”, de Dorival Caymmi, regravada pela cantora no primeiro disco sobre o tema – "Maritmo", em 1998.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Adriana Calcanhotto afirmou que pelo fato de muitas músicas terem ficado de fora há chances de que o terceiro cd não demore muito a sair. Ela foi para o estúdio com 20 canções e gravou apenas 11. Dentre elas, "Onde andarás" – de Caetano Veloso e Ferreira Gullar , "Para lá" – parceria com Arnaldo Antunes, "Sem saída" – poema de Augusto de Campos, "Teu nome mais secreto" – sua última parceria com Waly Salomão.
Nas músicas de "Maré" navegam outros músicos e parceiros como Péricles Cavalcanti, Antonio Cicero, Cazuza, Marisa Monte, Gilberto Gil, Rodrigo Amarante entre outros.
Como a própria Adriana definiu, "Maré" é um disco de transição entre Maritmo e a obra que está por vir – “Talvez por estar entre o primeiro e o terceiro é que ele tenha ficado tão entre a mulher e o peixe, entre a palavra e o emaranhamento quântico, entre a linguagem e o indizível.”
Depois de passar pela Argentina, a turnê de divulgação do disco que voltou recetemente de Portugal segue pelo Brasil.
No dia 17 de Outubro, Adriana fará a primeira, de duas apresentações aqui em Recife, no centro de convenções da UFPE.
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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Plantando Árvores

Se for verdadeira aquela velha frase clichê sobre a realização do ser humano, definitivamente, não posso morrer: não tenho um filho, não escrevi dez livros e só pude plantar até hoje, uma única árvore. Mas, ao contrário do que possa parecer, a última parte foi justamente a mais difícil e a que mais insegurança me causa. Ter um filho é algo escolhido, planejado.
Escrever livros pode ser um tipo de necessidade, dessas que surgem de repente e acabam fazendo parte da gente como respirar ou dormir.
Mas a árvore é outra história.
Para uma pessoa como eu, nascido e criado num ambiente urbano, não é fácil ter a chance de plantar uma árvore. E se hoje ainda é assim, imaginem quando eu era criança, entre os anos 80 e 90, quando ninguém falava na necessidade de se preservar o verde do planeta.
Sempre encarei as árvores como coisas que estavam lá, de pé, que serviam para fazer sombras e, no máximo, dar frutas. Mais nada. Só que quando criança, eu passava os fins de semana das minhas férias no sítio da minha avó materna e, um dia, por puro divertimento, minha avó resolveu que nós (eu e meus irmãos), as crianças da casa na ocasião, deveríamos plantar uma árvore.
E foi assim que nós três plantamos uma muda de mangueira. Na verdade, nem chegava a ser uma muda. Era apenas um caroço de manga chupado que, atirado no chão, tinha germinado. A descoberta do caroço aberto, com a mudinha despontando, é que dera a idéia a minha avó. E lá fomos nós, em grande excitação, munidos de pás e ancinhos plantar o caroço.
O trabalho foi feito de manhã bem cedo, mas lembro que, ainda assim, o sol ardia na nuca e o suor escorria. Mas nós achávamos ótimo! Limpamos o chão, que naquele ponto era coberto de capim, e cavamos o pequeno buraco onde foi colocada a semente germinada. Depois o caroço foi coberto com um pouco de terra (não muita) e regado com um pouco de água (não muita), segundo as instruções da minha avó. Ainda plantamos em torno da futura mangueira um punhado de mudas de uma planta rasteira chamada brilhantina, para enfeitar, e cercamos tudo com pedrinhas. Estava pronto o trabalho.
Dali em diante, foi esperar.
Nos fins de semana em que voltávamos para o sítio, cuidávamos e regávamos ao mesmo tempo em que íamos perdendo a paciência quando a muda começou a despontar seus pequenos talos verdes, afinal, vencendo a terra. De início, frágeis, logo começaram a se encorpar, a ganhar forma, anunciando os troncos em que se transformariam.
Isso nos animou e nunca deixamos de molhar as mudas, sempre de manhã cedo, assim que chegávamos ao sítio. Foi assim por um bom tempo, até que as férias acabaram e ninguém mais pensou no assunto. Mas um dia, muito tempo depois, a pequena muda tinha se transformado em uma árvore. Uma mangueira.
Não é muito, mas foi o que fizemos. Foi tarefa infinitamente aquém daquela feita no século dezenove a mando de D. Pedro II, o homem que praticou a ecologia antes de esta ser inventada. (e antes que perguntem: “– o que ele fez?”, lá vai: em 1861, D. Pedro desapropriou algumas fazendas, - cuja região não me lembro com precisão, porém se não me falha a lembrança de tal fato histórico, essas terras correspondem hoje em dia à área da Tijuca, no Rio de Janeiro – mandou chamar um homem, Manuel Archer, para cuidar do replantio. Ajudado por apenas seis escravos, Archer trabalhou durante onze anos, plantando mais de cem mudas, além de transplantar árvores já adultas. É incrível como me lembro de um fato que aconteceu há quase 151 anos? Não, não é. Principalmente quando se tem no colegial um professor de biologia que sempre me enriquecia – e às vezes me cansava – com tais fatos históricos. Biologia e História? É... mas enfim, prosseguindo...
É como eu disse: o que fizemos, de longe, se compara a isso, mas já foi alguma coisa, graças a minha avó, uma espécie de D. Pedro do sítio.
Durante muitos anos, enquanto continuei a passar férias no sítio, pude observar-la crescendo.
Ela, a árvore, que logo começou a dar frutos, tinha uma espécie de nó no tronco principal, parecendo uma cicatriz. Como alguma coisa guardada, que um dia precisasse sair.
É por isso que, muito tempo depois, quando o sítio precisou ser vendido e toda a região antes coberta do mais puro verde, foi loteada e favelizada, fiquei bastante inquieto.
A insegurança de que falei no começo é por causa disso. Não tenho coragem de passar lá. E fico me perguntando: “- será que preservaram a árvore?” / “- será que o terreno foi todo loteado?”
Porque de nada adianta ter plantado uma árvore se ela não ficou de pé. E mais: aquela mangueira sempre foi tão parecida comigo, com a criança que um dia a plantou e que também guardava um nó, desatado anos depois.


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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Pura Bobagem?

Sabe aquelas perguntas bobas do dia-a-dia, que às vezes você faz e não sabe como responder?
Pois é: elas têm respostas – e, algumas, são ridiculamente simples.
Se você pensa que sabe tudo, responda depressa às seguintes:

1. Por que aqueles cortes superficiais, provocados por uma folha de papel, parecem mais dolorosos do que outros mais profundos?
2. Pra que serve o dente siso?
3. Por que os mais velhos usam calças altas na cintura, acima do umbigo?
4. Por que o pêlo não cresce no lugar da vacina?
5. Por que algumas galinhas põem ovos brancos e outras, ovos marrons?
6. Por que capas de chuva têm de ser lavadas a seco?

Essas e muitas outras perguntas aparentemente bobas têm respostas. Mas não é o tipo de pergunta que a gente se faça com muita freqüência.
Bem, existe um sujeito nos Estados Unidos, chamado David Feldman, cuja especialidade é responder a esse tipo de coisa. Uma vez por ano, sai um livro dele com as perguntas mais escalafobéticas e suas respectivas respostas. Feldman chama essas perguntas de imponderáveis e, antes de respondê-las, vai às fontes, consulta peritos, finge que não ouve se alguém dá uma risota quando ele faz a pergunta e não se dá por satisfeito enquanto não resolve o mistério. As respostas são muito mais simples do que se pensa.
Entre os livros que ele já publicou (todos inéditos no Brasil), estão “Why do clocks run clockwise?” (Por que os relógios andam no sentido horário?) e “When do fish sleep?” (“Quando os peixes dormem?”). Eis ai mais duas momentosas questões que, se lhe fossem perguntadas, você sem dúvida embatucaria pra responder. O sucesso de Feldman (seus livros vendem aos milhares) é a prova de que, na verdade, não existem perguntas bobas.
Se fossem, eu ou você saberíamos responder.
Ok, então, por que o corte num dedo, provocado por uma folha de papel, consegue ser tão penoso? Porque os terminais nervosos estão localizados perto da superfície da pele, e as mãos, onde ocorre a maior parte desses cortes, são uma das regiões do corpo mais infestadas de terminais nervosos. Foi o que disseram os especialistas em cortes, provocados por folhas de papel, consultados por Feldman.
E para que serve o dente siso? “Pra doer!” – respondem os espíritos-de-porco. Ou para enriquecer os dentistas encarregados de extraí-lo, diriam outros. A grande verdade é que nenhum dos quatros sisos serve atualmente pra nada – mas já serviram.
Houve um tempo (ponha aí alguns milhões de anos) em que a carne consumida pelo homem era mais dura que a de certas churrascarias da sua, da minha cidade. Mas esse homem primitivo, com suas mandíbulas equipadas de valentes sisos, era capaz de transformá-la em patê, depois de algumas horas de mastigação. Pensando bem, os sisos têm a sua serventia ainda hoje.
Ah, sim, aquela história de os mais velhos usarem calças acima do umbigo. E não estou me referindo a uma calça ajustada à altura do umbigo, mas aquela que o cidadão usa quase debaixo do braço – sim, ainda existe gente assim! Os estudiosos do assunto ofereceram várias explicações a Feldman, algumas perfeitamente idiotas. Uma dessas é a de que, com a idade, as pessoas tendem a perder a altura – donde uma calça que se equilibrava normalmente nos quadris até algum tempo, começará a se arrastar pelo chão. A falha dessa teoria é a de que, quando os mais velhos compram calças novas, afivelam seus cintos do mesmo jeito: um palmo acima do umbigo. Outra teoria diz que os mais velhos usam as calças desse jeito para esconder a barriga. Mas não explica porque os jovens com as mesmas necessidades de esconder a barriga usam suas calças nos quadris. A resposta está na seguinte explicação: todas as calças fabricadas antes da conversão da humanidade aos jeans, em meados dos anos 60, eram feitas com a chamada “cintura alta”. Os remanescentes daquela época (os homens hoje com idade entre 60 – 70) acostumaram-se aquilo e mesmo com as calças novas, não se sentem bem equilibrando as calças nos quadris, como (ainda bem!) se tornou moda.
E quer saber por que não nasce pêlo na marca da vacina? Porque a marca da vacina é uma cicatriz como qualquer outra, provocada por uma inflamação que destrói os folículos capilares. Se você se preocupa que sua marca de vacina é careca, saiba que é possível fazer um implante de cabelo nela – mas só faça isto se não tiver um projeto mais urgente ou mais importante pra fazer. Quanto àquela história dos ovos brancos ou marrons (a resposta é tão simples que é uma vergonha repeti-la, mas...): depende da raça da galinha. As leghorns (legornes, como as chamamos aqui) põem ovos brancos e como são quase universalmente preferidas por tornarem-se adultas mais cedo, a maioria dos ovos consumidos no mundo é de cor branca. Os outros tipos de galinhas põem ovos em vários tons de marrons. Se você quiser saber se uma galinha porá ovos desta ou daquela cor, basta examinar a pele que cerca seus ouvidos. (os ouvidos da galinha, não os seus)
Se for branca, os ovos serão brancos, se for vermelha, você terá lindos ovos marrons ou quase. Quanto ao valor nutritivo de uns e de outros, não tenha ilusões: é extremamente igual. O colesterol também.
E por que a maioria das capas de chuva vem com aquela etiqueta recomendando que elas sejam lavadas a seco, se sua função é justamente a de tomar chuva e não ficar molhada? Exatamente por isto: para que os produtos que impedem a capa de ficar ensopada quando você sai cantando na chuva não sejam destruídos pelos detergentes que se usam na lavagem de roupa. Só tem uma coisa: os solventes usados na lavagem a seco também atacam o repelente de água presente na capa de chuva.
Donde, a lavagem com água acaba se tornando menos perigosa para o destino de sua capa, se você enxaguá-la até tirar o último vestígio de detergente. E, afinal, que diabo! A capa que sai a chuva é pra se molhar!
Enfim, essas são algumas das perguntas que o David Feldman responde sem seus livros.
No fim, tudo isso será realmente pura asneira?
Bem, eu acho muito mais importante do que saber, por exemplo, com quem e realmente quando a (santa) Sandy iniciou sua vida sexual.


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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Bálsamos Urbanos

A idéia que temos das grandes cidades brasileiras é de conglomerados caóticos, sujos, violentos, onde o trânsito é um pandemônio, onde crimes e assaltos se sucedem, onde epidemias eclodem, onde as ruas estão cheias de buracos, onde prédios, pichados de cima a baixo, deterioram inexoravelmente, onde as pessoas são nervosas e irascíveis.
Verdade.
Mas também é verdade que as cidades não nasceram para serem redutos de problemas, e sim para aproximar pessoas. Seres humanos gostam de conviver, precisam de convivência e, mesmo nas megalópoles, encontramos aqui ou ali, lugares que dão testemunho desta vocação. Surpreendentes cenários que de repente tornam-nos mais otimistas e afetivos. Andei pensando a respeito e conseguir fechar uma lista com dez desses lugares
Pois bem; aqui vão três dos dez cenários urbanos que, ao menos pra mim, podem atuar como bálsamos nas nossas vidas.

O primeiro deles e também o mais democrático: o mercado público.
Quase todas as cidades têm, e alguns deles, como o de Porto Alegre, Salvador, são lugares históricos. Mas poucas pessoas vão ali por conta da história; o mercado é um símbolo de abundância, e freqüentemente, um bom reduto gastronômico. Claro, ninguém espera encontrar ali “haute cuisine”, mas se é pra se comer abundantemente, aquele é o lugar.
E também é o lugar para comprar artesanato local, objetos típicos, etc.

O segundo cenário: a pracinha.
De alguma maneira, as cidades conseguem preservar, em alguns lugares, pequenas praças, às vezes muito antigas. Essas praças, caracterizadas por jardins modestos, mas com gramados, flores e também algumas copadas árvores.
Um busto em bronze de alguma figura do passado, freqüentemente esquecida, às vezes confirmando um dito de Mário Quintana segundo o qual: “Um engano em bronze é um engano eterno.”

O terceiro cenário é o colégio.
Pode ser a pequena escola de nosso bairro, o lugar onde fomos alfabetizados, onde descobrimos a leitura.
Por essa escola, passamos às vezes, e lá estão as crianças no pátio, correndo e brincando. Por um momento, nos detemos; por um momento, voltamos no tempo.
E depois, sorrindo nostalgicamente, prosseguimos certos de que a vida tem sentido. Talvez não saibamos bem que sentido é esse.
Mas reconhecemos, com certa emoção, o cenário onde ele nasceu.


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sábado, 27 de setembro de 2008

Verdadeiro ou Falso?

Perdi uma aposta. Um dia desses, há pouco tempo atrás, estava jantando com um amigo que sempre se definiu como “ignorante vegetal” – isto é, como uma pessoa que nada entende de plantas - , quando reparei num arranjo de flores preso a parede, a poucos metros da nossa mesa. Eram gérberas. Sem dúvida, flores verdadeiras, mas tão perfeitas que pareciam de mentira. De brincadeira, desafiei meu amigo a dizer se eram falsas ou não (sempre fazíamos isso) e ele, descolado, disse que deveria opinar primeiro.
Fui sincero: “- Não parece, mas são flores de verdade.”
Meu amigo retrucou: “– Pois eu aposto que são de mentira.”
Falou aquilo por pura pirraça, só para afrontar. Mas eu decidi topar a aposta. Quem perdesse, pagaria o jantar.
Levantei e fui até junto da parede tocar nas pétalas de uma das flores, porque sei que, ao tato, a verdade sempre se revela. E então veio a surpresa: eram falsas.
Tão reais e, contudo, tão falsas.
Meu amigo vencera.
Passados alguns dias, recebi um arranjo de rosas – verdadeiras; claro. E eu, que quase nunca recebo flores, fiquei radiante com o buquê. Eram botões vermelho-sangue, perfeitos, bem-acabados, cada pétala fechando-se sobre a de baixo num contato harmônico, as folhas saindo das hastes num ângulo estudado, irrepreensível. Lindas, lindas rosas. E ainda por cima vermelhas. Ao olhá-las, eu me perguntei como ficariam quando desabrochassem – se já eram belas em botão.
Arrumei-as num vaso comprido de cristal, cortando as pontas das hastes uma a uma para que as flores durassem mais, como aprendi com minha avó. Terminado o trabalho, ainda coloquei uma pitada de açúcar na água, outro segredo para obter a longevidade das rosas. Depois, dei uns passos para trás para admirar o arranjo.
Cada botão se equilibrava na ponta da haste com elegância e perfeição, as folhas eram de um verde encerado, quase irreal. Chegavam a ter uma beleza excessiva, que as fazia parecerem artificiais. Por um segundo, lembrei da aposta perdida.
Depois olhei o relógio e, vendo que estava atrasado, saí pra trabalhar.
À noite, ao entrar em casa, meus olhos imediatamente se prenderam ao buquê.
As rosas estavam exatamente idênticas. Apesar do calor, nenhum dos botões ameaçava desabrochar. Continuavam tão intocados, tão perfeitos, que pareciam de mentira, num contraponto com as gérberas do restaurante. E, no dia seguinte, ao acordar, nada mudara.
Os botões lindos, perfeitos, continuavam fechados. Cheguei perto e toquei um deles com a ponta dos dedos; seu acetinado não deixava dúvidas de que era real.Mas por que aquelas flores não se abriam? Seria culpa dos adubos, dos métodos de armazenamento? Seriam rosas transgênicas? Num impulso, inclinei o rosto e cheirei o botão.
Não tinha cheiro de nada.
Sem desabrochar, sem desfolhar, sem ter perfume, aquelas rosa “pós-modernas”, perfeitas em sua forma, eram de uma beleza morta, como feitas de pano.
E foi assim, olhando para elas, que me comecei a refletir sobre as fronteiras entre o falso e o verdadeiro hoje em dia. Há pouco, eu escrevia em meu computador sobre as pérolas, que deixaram de ser valiosas depois que o homem descobriu como cultivá-las, fazendo desaparecer a diferença entre uma pérola de verdade e uma “fabricada” ou cultivada.
Pois no mundo contemporâneo parece que todas as fronteiras se esgarçam, misturam, confundem. Todas elas.
Antes bem marcadas, as diferenças entre o homem e mulher, criança e adulto, público e privado ficaram de uns tempos pra cá enevoadas, fluidas.
Mas nenhuma fronteira desaparece mais rapidamente do que aquela entre o que é falso e o que é real.
Na literatura, há uma tendência a misturar ficção e não ficção, sem dar ao leitor a chance de discernir qual é qual.
Demarcar territórios, nesse sentido, deixou de ter importância. No jornalismo, já se discute a ética de manipular eletronicamente as fotografias, acrescentando ou tirando detalhes, fazendo composições, pois ficou impossível dizer se uma foto exprime de fato uma verdade. A imagem perdeu o poder da prova – o que é inquietante.
A tecnologia da falsificação se aperfeiçoou de tal forma que vai ficando cada vez mais difícil distinguir a cópia do original, e isto se aplica a tudo, de bolsas Vuitton a vestidos Prada, de vasos Gallé a relógios Rolex, programas de computador, tênis, CDs, quadros e até – por que não dizer? – seres humanos.
Para bem e/ou para o mal, a estética da mentira é uma realidade. Vai ficando cada vez mais difícil determinar o que é falso e verdadeiro no aspecto de uma pessoa.
Por exemplo, os sorrisos. - Como um gesto tão simples pode causar tanta dúvida?
E o que dizer dos corpos sarados, lipoaspirados de mulheres e homens? Ainda mais num país como o nosso, vaidoso e nu.
Onde será que vai parar tudo isso?
O meu medo é que, se as fronteiras entre o falso e o verdadeiro continuarem a desaparecer, o mundo todo acabe se transformando numa coisa amorfa, pasteurizada, insípida, inodora e incolor. Um mundo fake!
Como as flores que tive na minha sala há poucos dias, as minhas rosas transgênicas.


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sábado, 20 de setembro de 2008

Se não fosse a fofoca... Seríamos primatas

Não sou chegado à fofoca, a vida alheia não me interessa. Se defeito meu, sorte sua.
Isso talvez faça de mim um estranho em qualquer ninho ou me renda o renome de egocêntrico, que, resignadamente, aceito – e até mesmo de autista, contra a qual não discuto.
Mas não sou um zero em curiosidade, muito pelo contrário, sempre tive vontade de saber por que tantos gostam de uma boa fofoca... Tudo bem, ela nem precisa ser boa.
Pouco importa que pouquíssimos entre nós a deplorem (ou finjam deplorá-la), sob o argumento de que é feio falar da vida alheia, pois, no fundo, praticamente ninguém resiste às titilantes promessas de um “babado”, razão pela quais milhares de pessoas vivem e se enriquecem às suas custas.
Juro que me fio em pesquisas respeitáveis sobre o esmagador interesse das pessoas em publicações como: People, Caras, Hoy!, o supra-sumo do voyeurismo de massa.
Que os fofoqueiros não se envergonhem de seu fascínio pelo fuxico: ele é parte da natureza humana, como a inveja, o instinto de conservação e até mesmo o chulé.
Em resumo, temos o “grooming” (que poderíamos traduzir como “asseio corporal”), que é aquilo que os gatos e os humanos fazem por conta própria e o cachorro não. Ou seja, tomar banho, limpar-se, arrumar-se, enfim. No reino dos macacos, o asseio é uma tarefa a dois: um cata piolho no outro. Pois foi catando piolho que os primatas teriam inventado a conversa fiada, o papo furado, a mais primitiva manifestação da linguagem humana. Não só isso, através do mexerico, os hominídeos impuseram-se às demais espécies.
Se não falhei nas minhas pesquisas, há mais de um século que o interesse pela fofoca ganhou status acadêmico. Sim, porque o primeiro estudo sobre a “psicologia do boato” data de 1908, escrito por J.D Logan e publicado em uma revista canadense.
Frívolo, perverso,perigoso, deletéria interface entre o publico e ou privado, a fofoca é a malicia destilada e, por vezes, leviandade em estado bruto - “um fole inflado por suposições, ciúmes e conjecturas” , segundo Shakespeare, que talvez tenha inventado o patrono da fofoca maligna: lago, o intrigante de Otelo.
Operando com verdades e meia verdades, fatos e rumores, evidências e falsidades, o fofoqueiro pode destruir reputações, ferir sentimentos e até induzir a crimes maiores (sim, tendo em vista que vivemos em um tempo no qual se matam pessoas por um pedido de silêncio).
Todos o temem e, ao mesmo tempo, se deixam fascinar por seu assombroso e quase erótico poder emocional. Fofocas já motivaram até duelos, sem morte e com morte (quem mandou Alexander Hamilton dizer certas coisas sobre Aaron Burr?), e desmentidos constrangedores de personalidades públicas, que ao menos tiveram a prudência de pôr o galho dentro a tempo de salvar a pele de todos os envolvidos - se bem que qualquer desmentido, na minha visão econômica, nada mais é que a correção monetária do boato.
Sua importância como catalisador do processo social é tão inegável quanto à sua força e sua dúbia serventia. Existem boas e más fofocas, assim como existem bons e maus fofoqueiros.
Sempre soubemos disso, mas só recentemente nos asseguraram que foi bancada a Candinha que os homens, quem diria, tornaram-se sapiens.
Agora, espalhem.


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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um Ser Politicamente Sustentável

Com a proximidade das eleições municipais no país, achei que seria válido fazer uma reflexão sobre os desafios no que se refere à gestão de um dos nossos sentimentos mais preciosos: o sentimento de sustentabilidade.
Ser sustentável não é apenas um querer, um falar. E também não é uma impossibilidade, como muita gente pensa. Ser sustentável é fazer uma reflexão sobre a realidade e perceber pequenos recursos que permitam grandes transformações. Essas transformações podem levar a um novo modo de vida social, ambiental e econômico ou desembocar em um cenário de horrores.
Existem dois tipos de comportamentos que têm impacto sobre o meio em que vivemos: o pessoal e o corporativo. O pessoal tem a ver com cidadania, com sociedade civil e o com o Estado; o corporativo tem a ver com grandes empresas e as atividades econômicas.
De um ponto de vista inteiramente pessoal, para que não só um desses lados seja beneficiado, precisamos saber o que acontece com algumas coisas muito comuns no dia-a-dia das pessoas, inclusive, daqueles em que vamos depositar nossa confiança durante os próximos anos.
Quando se sabe dessas coisas, tomar a decisão de ser ou não uma pessoa sustentável é fácil.
No momento em que há uma mobilização mundial em prol da preservação desses comportamentos, é importante chamar a atenção para o papel fundamental dos poderes público e privado no que diz respeito ao desenvolvimento do bem comum.
É imprescindível ainda que nossos próximos governantes municipais tenham como prioridade (e sem nenhum de tipo de clichê) o investimento em saneamento básico e em infra-estrutura que possibilitem a minimização de perdas, em todos os sentidos da palavra.
E para que essas ações não fiquem somente no âmbito do discurso, é essencial que o Estado adote ações efetivas, como a criação e a regulamentação de leis; afinal o crescimento com responsabilidade sustentável é dever de todos e deve ser incentivado desde cedo.
Prestem bastante atenção.


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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O "Z" do Zero

Bem, foram esses os primeiros zeros que me vieram à memória: O “Marco Zero” (de Oswald de Andrade); O “Fome Zero” (Do... Bem, não quero escrever esse nome aqui); O “Ground Zero” (a cratera onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center); Os contos de “Ti com Zero” (do Italo Calvino); O jornal gaúcho “Zero Hora” (no qual puder ler alguns exemplares)... Não necessariamente nessa ordem, mas sim os que talvez traduzam o zero e o infinito.
Assim como tivemos que esperar um milênio para termos três noves no calendário, só há oitos anos usufruímos da oportunidade de escrever três zeros nas datas e nos talões de cheque.
Porque só há oito anos e não há 1008 anos? - Ah, Peguei-te cavaquinho!
Ainda não havia talões de cheque neste planeta no ano de 1000 (Dan!). E mesmo que bancos já existissem, seus talões seriam datados em algarismos romanos. Isto é, sem zeros. Há 1008 anos, mil era apenas M.
Eu adoro está vivo (ainda escrevendo e com algum dinheiro em minha conta bancária) para desfrutar do raro deleite de virar um milênio e passar um ano inteiro escrevendo três zeros.
Agora, só daqui a 992 anos, quando eu, você, nenhum de nós estará vivo para tripudiar dos que tombaram no meio do caminho.
Enganam-se aqueles que pensam que o zero é o meu número favorito, muito menos o meu número da sorte. Não nego minha simpatia pelo sete, de resto, inteiramente gratuita, pois nem com ele levo sorte no jogo, qualquer jogo... E a sorte no amor... (Hã?)
Enfim, o zero inspira-me respeito e reverência, até por ser o mais estranho e malvisto número do universo, o último algarismo inventado pelo homem, sinônimo e símbolo do vazio, do nada, do nulo, fonte de grandes paradoxos do pensamento humano, pivô de toda aquela controvérsia em torno da chegada do atual milênio (a chegada do anterior não foi muito diferente, com bugs de outra espécie).
Existem muitas contestações em relação à criação do zero. De fato, seu reconhecimento foi muito tardio. Pelo menos dois matemáticos americanos, um de Havard e outro de Yale; cumpriram sua parte nas homenagens ao ano 2000, escrevendo dois livros sobre o zero: “A Natural History of Zero”, Robert Kaplan e “Zero: The Biography of a Number”, de Charles Seife.
Há pouco tive a oportunidade de ler o do Kaplan e me tomou a atenção um tópico em que ele, entre viagens, matemática, filosofia, poesia, história, lingüística e até mesmo astronomia, fala: “Não é possível entender o mundo sem entender a morte e o zero”
(...)

Passei a entender um pouco melhor o mundo depois de ler “A Natural History of Zero”. Falta agora entender a morte... Por fim, vale dizer que já dei conta do zero, mas não do infinito.


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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Edificante Poeminha Escrito em Portuñol

1º - Don Ramón se tomo um pifon:
Bebia damasiado, Don Ramón!

2º - Y al volver cambaleante a sua casa avistó em el camino:
Un árbol y un toro...

3º - Pero como véia duplo, Don Ramón vio un árbol que era y un árbol que no era.
Un toro que era y un toro que no era.

4º - Y Don Ramón se subió al árbol que no era...

5º - Y lo atropeló el toro que era...

6º - Triste muerte de Don Ramón (...)

Obs: Poema de caráter nevrálgico e reflexivo

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Procure Poesias

O Brasil deve ser provavelmente, o país com o maior número de poetas por metro quadrado! Em compensação, o país deve possuir o menor percentual por quilômetro quadrado de leitores de poesia... E essa é uma questão difícil de explicar.
Como uma sociedade que possui tantos poetas, ao mesmo tempo, lê tão pouca poesia?
Culpa da escola?
Quando crianças, aprendemos sociabilidade através da poesia: nossas cantigas de roda são versos de seis ou sete sílabas poéticas, em geral, que facilitam a memorização.
A tradição ibérica é do poema popular de seis ou sete versos que são decorados.
Ou seja: crianças, gostamos de poesia.
Então, chegamos à escola. Parece que, na escola, a poesia é matéria de segunda qualidade. Os programas oficiais falam pouco sobre poesia. Os professores parecem temer a poesia. E aos poucos, ainda crianças, onde tudo é descoberta, esquecemos a poesia. Esquecemos a forma do poema.
Na adolescência, tem-se uma recaída (quase sempre fora da escola). A primeira paixão nos impele à produção de poemas para nossos primeiros namorados, namoradas, enfim... Companheiros.
O Mario Quintana dedicou vários poemas às suas primeiras namoradas. Felizmente, ao menos pra mim, depois das “paixonites”, ele continuou poeta. Mas a maioria desiste.
E, adultos, afastamo-nos totalmente da poesia.
Por quê?
Meu palpite é que temos medo da introspecção que a poesia propõe e exige.
É um pouco triste estereotipar, mas brasileiro gosta de falar alto, de expandir-se, de brincar, de ser inconseqüente.
E antes de tomar essas palavras como ofensa, apenas pare e pense, ou olhe ao seu redor.
A verdadeira poesia não gosta disso. Ela exige o silêncio, o encontro do leitor consigo mesmo, quase que de olhos fechados, como que guiado pela sonoridade e o ritmo das palavras e versos.
Eu não consigo dormir a cada dia, sem ler ao menos um poema, ou até mesmo, ouvir algum musicado.
É aquele momento em que, depois da azáfama do dia, quebro o ritmo trepidante e encontro-me comigo mesmo. É a minha oração.
Além de servir como alimento da alma, reequilibra. Seja apresentada de que maneira for.
Apenas Procure.

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quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Como um Funcionário do Google

Hoje, além de mais um de meus pensamentos, é uma data que eu faço questão de registrar.
Hoje eu recebi o primeiro salário do novo escritório de arquitetura e ambientação onde trabalho.
Há quase três anos trabalho como designer de interiores, profissão ainda (ao meu ponto de vista) carente de reconhecimento no mercado.
Nesse tempo, passei por dois escritórios de arquitetura, alguns trabalhos autônomos e/ou empresariais... E mesmo com uma série de percalços, gosto do que faço.
Descobri por acaso, amo por opção.
Há pouco, lia em uma revista, uma matéria sobre o emprego que dez entre dez jovens dos Estados Unidos apetecem: ser um funcionário do Google. E antes que vocês perguntem:
“- O que isso tem a ver?” Apenas leiam.
Ao mesmo tempo em que a empresa é um ideal de realização pessoal, ganhou o bi no ranking anual de empresas com melhor reputação nos Estados Unidos. Não é fácil, mas o Google alcança isso sem terror nem chicotada nos funcionários. Sim, a cobrança é alta, mas os resultados chegam graças ao clima de descontração que a empresa procura manter seus quase 20 mil funcionários (Brasil incluso).
Desde que a filial brasileira foi aberta em 2005 (com escritórios em São Paulo e Belo Horizonte), só um funcionário foi demitido por baixa produtividade. O resto dos quase duzentos funcionários “sofre” feliz.
No Google qualquer um pode trabalhar de bermuda e chinelos, e ninguém tem hora pra chegar. Máquinas de refrigerante e salgadinhos, junto com o restaurante, são gratuitos.
O ambiente é aberto, sem divisórias ou paredes entre os departamentos. Se você está num dia ruim, sem cabeça pra trabalhar, não tem problema: há uma sala com jogos, videogames e mesa de sinuca, entre outros. Já para a dor de cabeça e cansaço: salas com redes e pufes.
Ninguém controla quantas horas você fica na mesa. A cobrança é em cima da produtividade, dos projetos que você ajuda a desenvolver.
Não bastasse tudo isso, o Google ajuda nos gastos extras de seus funcionários, que vão da simples manicure a cursos de inglês, com uma “paradinha” por academias de ginástica.
E ainda não acabou... Não bastassem essas “regalias”, os colegas podem indicar uns aos outros para receber prêmios como jantares e viagens ou simplesmente, bônus no salário.
(...)
Na minha humilde (nem por isso menos maravilhosa) realidade, não existe tais máquinas ou salas, porém, existe a mesma cobrança e a mesma liberdade a nível profissional/visual, no qual eu posso afirmar a influência positiva sob minha produção.
Nossos momentos de liberdade, silêncio, calma, nervosismo, alegria, tristeza, decepção, descontração, divergência, concordância, entre tantos outros, servem apenas para vigorar a relação “somos uma equipe” e a sensação de que eu estou enfim com uma segunda família, a família que eu escolhi, ou seja, estou entre amigos. Esses são apenas alguns, dos milhares de motivos que eu poderia citar aqui... Tão poucos entre tantos existentes que fazem com que eu me sinta como um funcionário do Google.
Some ao conjunto, o componente mais importante: o reconhecimento como um profissional.

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terça-feira, 12 de agosto de 2008

Necessidade Especial

Essencial.
É isso que a música é pra mim. Junto a ela, os amigos com que carinhosamente eu tenho uma “banda”.
Banda entre aspas serve pra enfatizar que isso nunca foi além de um momento nosso. A maneira de estarmos juntos; de nos encontrarmos pra fazer o que mais gostamos: expressar sentimentos através da música.
Eu nunca tive a pretensão de me tornar músico. Não, não cheguei a tanto e esse é, sem dúvidas, um longo caminho. Apesar de grande apaixonado, eu ainda fortaleço vários “pré-conceitos” musicais e esse é, o principal motivo pelo qual não posso ser chamado de músico.
Isso tudo tem uma simples explicação: Os meus grandes ídolos nacionais e/ou internacionais, não têm esse tipo de limitação.
(...)
Bem, essa é mais uma de minhas composições. Marca o retorno da minha banda, a reformulação do nosso estilo e o início da fase em que eu “escrevo sobre o que sinto”.
Essa letra deixa isso bem claro. Chama-se “How to Start” e em poucas palavras fala sobre recomeçar e tudo o que essa palavra cinge.
Recomeçar da melhor maneira: jogando fora episódios ou pessoas que não te fizeram bem.
Boa interpretação.

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How to start (Rodrigo S. / Anne M.)

This sentimental point of view is contemplating thoughts about you.
It goes too far, but it never goes away.
Heart-to-heart is wearing thin. I guess you've lost the need for feeling.
Things change, you've gone.
So I keeping the best of me, it won’t break my heart in two.

Cause its just another one too many days I’ve gone without you.
But, did I have a day with you?
Life's a lovely thing to waste, so I won't waste my life on you.
I 'll try to make things work out.

I believe that everything has potential to be nothing.
Guess we weren't anything.
Guess you found what you really want.
So I want you to forgive me for not forgive you.
I won't forgive you.
I won't forget that you can’t forgive me.
I won’t forgive that fact that you can’t forget.

So it’s just another lday.
One too many days I’ve lost with a piece of shit that I stupid called somebody...
And Life's a lovely thing to waste, so you could be sure that I won't waste my life on you.
Fuck you!
I'll try to make things work out.

And I finished by saying that I hope you find the guy of your dreams.
The guy who makes you cum and end up saying:
"Your ass is not good enough for me; I gotta leave for make things work out"

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domingo, 10 de agosto de 2008

Permutação de Papéis

Once i was a little girl, stuck in a harbour, waiting for my beloved captain to come back...

(...)

But then i decided i was the captain, so i stopped being the little girl.

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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Egoísta

Egoísta (adj.) Diz-se de, ou pessoa que põe seus interesses pessoais acima de quaisquer outros. - Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

"O egoísmo não consiste em vivermos conforme os nossos desejos, mas sim em exigirmos que os outros vivam da forma que nós gostaríamos. O altruísmo consiste em deixarmos todo o mundo viver do jeito que bem quiser." – Oscar Wilde


Pois bem, é o que eu resolvo ser a partir de hoje e por tempo ainda indeterminado.
Há algum tempo que os meus sentimentos, os meus desejos e tudo que inclui relação direta a mim mesmo, é posto em segundo plano. E quem é o único culpado nisso tudo?
Eu.
É tudo minha culpa, minha máxima e absoluta culpa.
Se eu insisto em sempre tomar os problemas das pessoas como meus, se eu insisto em estar sempre disposto a mostrar a “mão amiga”, por que eu deveria sentir falta disso em relação às pessoas de uma maneira geral?
Elas não são culpadas por isso! Elas não podem carregar o fardo de disponibilizar no seu dia, cinco minutos do seu tempo pra pensar na minha vida! Lógico que não! Aliás, cinco minutos é muito tempo! Em exatos cinco minutos que chego a essa parte de um mais um pensamento, eu poderia está ajudando um amigo, tentando resolver seus problemas, ou simplesmente por perto... Mas, por que eu faria?
Simples: “O meu egoísmo, é tão egoísta, que o auge do meu egoísmo é querer ajudar. Mas não sei por que nasci pra querer ajudar a querer consertar o que não pode ser.” (“Carpinteiro do Universo - Raul Seixas).
(...)
Nunca aceitei meu egoísmo, porém agora, eu me pego a mão e mudo o meu caminho junto as minhas frases frente ao espelho.
De forma estridente, eu quero fazer escárnio de maneira clarividente a frases como essa:
“Pedi você pra esperar cinco minutos só, você foi embora, sem me atender. Pois não viu, não sabe o que perdeu, pois você não viu como eu fiquei... Pois você não sabe e nunca vai saber... Pois você não sabe quanto vale cinco minutos na vida.” (“Cinco Minutos” - Marisa Monte)
Sem achar-me complicado, de agora em diante eu quero cantar canções pra mim.
Pelo menos até que chegue o momento em que eu possa renunciar:

“- Estive cansado. Meu egoísmo me deixou cansado. Meu orgulho me deixou cansado. E agora não falo pelos outros, só falo por mim.” ("Samba sobre você" - Rodrigo Severiano)

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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Sem Denominação Honorífica

Bem, vamos lá...
Cenas de uma vida melhor. Elas têm me assombrado nas memórias das cidades, filmes, família e feriados.
Mas encontro-me na equitação dos automóveis. Afogando-me em histórias, pendurado em palavras que ouvi e erros que eu tentei esquecer.
Esses (erros) me batem, me doem.

Se a minha memória me servir, eu vou servir a minha vez.

Felizmente eu posso dizer que, o que vale, é esquecer.
Esquecer para dizer honestamente a mim mesmo que tudo isso é mais do que eu deveria está sentindo.
Sabendo como me sinto você me conhece.
E isso me bate, me dói.

Se a minha memória não vai me servir, eu vou servir ao meu tempo.

(...)

Se eu tento navegar em conjunto e não reencontro o amor, então a minha moral encarrega-se de definir seus próprios erros.


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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sobre Descobertas

Andei procurando uma lista de motivos para não permanecer em um lugar que costumava chamar de meu, mas uma réplica de uma voz interior foi tudo que eu ouvi. Gritava na minha direção de forma superficial, apelava para que eu a levasse a um lugar onde nos tornássemos o que eu era há alguns anos. Por fim, tudo o que achei foi a lista de motivos para permanecer no meu lugar, mas a réplica da voz interior continuava bradando por atenção, pedindo para que eu não ignorasse as suas palavras.
(...)

Eu não ignoro palavras, principalmente as minhas

(...)
Há tanto entre elas... Tantos pensamentos, momentos, apelos... Essa é a forma pela qual conscientemente eu nunca tento achar a “luz “em alguém que toma uma decisão consciente. E essa “pseudo-ignorância” é o que vou manter em mente para os próximos tempos; é o suficiente para rejeitar qualquer crédito que eu acredito que alguém possa ter tido. Na minha mente o “ganhar de volta” mostra sinais de incerteza, mas não consegue encontrar um traço de remorso. Se esse incidente serve apenas pra formular exemplos do meu “eu”, então afirmo com certeza que vale à pena.

...Andei pensando em alguma citação que pudesse transmitir o meu ponto máximo... Achei uma do Oscar Wilde:
“- Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”


Eu aceito como verdade absoluta e tento quase como uma obrigação, está entre a minoria.

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