sábado, 20 de setembro de 2008

Se não fosse a fofoca... Seríamos primatas

Não sou chegado à fofoca, a vida alheia não me interessa. Se defeito meu, sorte sua.
Isso talvez faça de mim um estranho em qualquer ninho ou me renda o renome de egocêntrico, que, resignadamente, aceito – e até mesmo de autista, contra a qual não discuto.
Mas não sou um zero em curiosidade, muito pelo contrário, sempre tive vontade de saber por que tantos gostam de uma boa fofoca... Tudo bem, ela nem precisa ser boa.
Pouco importa que pouquíssimos entre nós a deplorem (ou finjam deplorá-la), sob o argumento de que é feio falar da vida alheia, pois, no fundo, praticamente ninguém resiste às titilantes promessas de um “babado”, razão pela quais milhares de pessoas vivem e se enriquecem às suas custas.
Juro que me fio em pesquisas respeitáveis sobre o esmagador interesse das pessoas em publicações como: People, Caras, Hoy!, o supra-sumo do voyeurismo de massa.
Que os fofoqueiros não se envergonhem de seu fascínio pelo fuxico: ele é parte da natureza humana, como a inveja, o instinto de conservação e até mesmo o chulé.
Em resumo, temos o “grooming” (que poderíamos traduzir como “asseio corporal”), que é aquilo que os gatos e os humanos fazem por conta própria e o cachorro não. Ou seja, tomar banho, limpar-se, arrumar-se, enfim. No reino dos macacos, o asseio é uma tarefa a dois: um cata piolho no outro. Pois foi catando piolho que os primatas teriam inventado a conversa fiada, o papo furado, a mais primitiva manifestação da linguagem humana. Não só isso, através do mexerico, os hominídeos impuseram-se às demais espécies.
Se não falhei nas minhas pesquisas, há mais de um século que o interesse pela fofoca ganhou status acadêmico. Sim, porque o primeiro estudo sobre a “psicologia do boato” data de 1908, escrito por J.D Logan e publicado em uma revista canadense.
Frívolo, perverso,perigoso, deletéria interface entre o publico e ou privado, a fofoca é a malicia destilada e, por vezes, leviandade em estado bruto - “um fole inflado por suposições, ciúmes e conjecturas” , segundo Shakespeare, que talvez tenha inventado o patrono da fofoca maligna: lago, o intrigante de Otelo.
Operando com verdades e meia verdades, fatos e rumores, evidências e falsidades, o fofoqueiro pode destruir reputações, ferir sentimentos e até induzir a crimes maiores (sim, tendo em vista que vivemos em um tempo no qual se matam pessoas por um pedido de silêncio).
Todos o temem e, ao mesmo tempo, se deixam fascinar por seu assombroso e quase erótico poder emocional. Fofocas já motivaram até duelos, sem morte e com morte (quem mandou Alexander Hamilton dizer certas coisas sobre Aaron Burr?), e desmentidos constrangedores de personalidades públicas, que ao menos tiveram a prudência de pôr o galho dentro a tempo de salvar a pele de todos os envolvidos - se bem que qualquer desmentido, na minha visão econômica, nada mais é que a correção monetária do boato.
Sua importância como catalisador do processo social é tão inegável quanto à sua força e sua dúbia serventia. Existem boas e más fofocas, assim como existem bons e maus fofoqueiros.
Sempre soubemos disso, mas só recentemente nos asseguraram que foi bancada a Candinha que os homens, quem diria, tornaram-se sapiens.
Agora, espalhem.


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