quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Poesia Pra Todo Dia

“O melhor da vida é comer as bordas".

É simples e é uma verdade absoluta e contraditória.
O melhor da vida é o que vem anexado - sem querer - a ela.
O melhor não é exatamente a competição, mas tudo o que a ronda.
A felicidade não é exatamente nada, mas tudo o que não é exato e circunscreve a exatidão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Coerções de Lenine

Nada pra fazer. Sento na cama. Dedos inquietos e descoordenados batucam intimamente em meus joelhos. Olho pro quarto procurando defeito. Acho, mas não dou bola. Não era defeito o que eu procurava mesmo. Comida. E se eu comer? Não estou com fome, mas também não estou estufado. Na cozinha, delícias de outrora passam a não ser mais capaz de aquietar meu estômago. Como pode? Abro a porta do armário do quarto e me olho no espelho. Tudo monotonamente igual. Especialmente hoje, não estou bonito nem feio. Fecho desleixado, deixando vazar uma fresta escura. Um monstro já morou lá anos atrás. Hoje não tenho mais saco para homens do saco. Comida. E se eu for comido? Não. Se não como quando não sei o que fazer, também não vou ser comido.

Música? De novo? Às vezes tenho medo de ouvir tanta música e acabar esquecendo a entonação normal. Já pensou se começo a falar tudo cantando? E cantar tudo falando? Bizarro. Música não. Ontem meus ouvidos pediram piedade e hoje é dia de dar ouvidos a eles. Hoje, repito, música não. Até os meus CDs sabem do mal que tenho causado aos meus tímpanos. Combinam, secreta e conspiratoriamente, de entrar em intervalo ou parar bem quando eu os ponho. Eu sei. Não vou nutrir a diversão dos outros às minhas custas. E TV nem pensar. Por quê? Ah, porque tem canais demais. Começo a ver alguma coisa, entram os comerciais, mudo de canal e esqueço de voltar. Nunca mais, desde meu primeiro controle remoto, assisti a um programa inteiro na TV. Preguiça de me perder na TV.

Ler também não. Vou ler o mesmo parágrafo vinte vezes e vinte vezes vou me emputecer por não prestar atenção. Perda de tempo. Pior, perco meu tempo. Não tenho a quem xingar a não ser a mim mesmo. Todo mundo viajou. Ok, nem todo mundo, vai... Mas pra quem não viajou eu não estou com o menor saco de ligar. Íssa! Falei! Falei? Falei nada. Pensei. Ê, vida besta... Besta demais para um coração cavalar. Pensa demais sem colhão pra falar.

No andar de cima o médico que tem cara de quem... Deixa pra lá. Ele ouve Lenine. Lenine é legal. Tem aquela música da calma, da alma. Ih! É bem essa que ele está ouvindo. Música legal. Mas está irritando. Muito lentinha. Muito zen. Zen é atraso. Não consigo ficar zen. Não consigo ficar sem. E isso é zen. Ficar sem fazer. Sem pensar. Sem sentir. Sinto muito. Muito para não sentir. Não quero não fazer nada. O médico, este sim, está zen. Colocou em dízima periódica a música da calma da alma do corpo da vida que não pára não, não pára. Não é essa? Ah... Pois essa outra então, que você sabe qual é, não pára de tocar. Está no repeat. Filho da puta.

Eu sei que disse que gosto da música. Eu amo música. Boa música. E a música é boa quando você está pensando calmamente sobre a própria existência tal como Lenine criando sua obra de arte. Eu disse obra de arte? Disse. Mas não é o que eu penso agora. Juro. Agora quero dar um tiro no teto e tentar acertar o médico pelo saco. Já pensou que legal? Ai, que horror, né? É. Pego meus pesinhos. Um, dois. Até quando o corpo pede... Três, quatro! Um pouco mais de alma... Cinco, seis, puuuuta que o pariu. Corro à janela com os palavrões escondidos, mal se contendo embaixo da língua. É claro que não grito. Resmungo para minhas entranhas desinteressadas, apenas. Como vou encontrar com ele no elevador depois? Sim, sim, eu ligo para isso. Não moro num andar baixo e ele mora ainda acima de mim. Presumindo que ambos estejam sempre fazendo um itinerário até a garagem ou o térreo, longos metros de concreto me ruborizariam e torturariam minhas mãos inquietas e inseguras. Não estou a fim de passar por isso.

Volto, como um cachorro preso na copa sem o que fazer, a sentar na cama e procurar defeitos no quarto. Uma mosca ameaça entrar, robótica e débil, pela janela. Olho ameaçadoramente, como se fosse capaz de transmitir um alerta telepático. Rio leve quando ela se vai, no riso dos bobos que acreditam poder mais que os outros. Aê, moscão, captaste minha mensagem. Muito bem! Uma pilha gigantesca de roupas lavadas e passadas aguardam, submissas, a volta de meu bom humor. Tiro os olhos dela com o mesmo desprezo com que pus. Desses momentos a vida podia me poupar.

Tudo é tão corrido e, de repente, quando não consigo fazer nada, continuo acelerado. Como um carro robótico e débil consumindo combustível sem sair do lugar. O dono, irritado, chutaria o pneu. Seria o mesmo que topar o mindinho na quina da cama neste exato momento. Bater o mindinho é morrer aos poucos. Batendo ou não, morrendo ou não, não resolve o problema. Socorro! Estou acelerado e não saio do lugar! É o tempo brincando de sado-masoquismo. Me amarra e me venda enquanto a vida grita urgente pelos poros e suores.

O tempo não me mata apenas quando não o vejo passar. Mata assim também, mas é indolor. Quando vemos, já foi. O pior acontecia comigo. O pior é quando mata e temos que assistir à própria morte. O ritual. I’m in the death row. Todos estamos, mas muitos não se dão conta. Colocam Lenine em suas celas para se desvirtuar do que espera. Logo mais acaba corpo, vida, calma, se bobear até alma. Vai saber. Bem vindo ao corredor da morte, baby. Aqui não acreditamos em nada. Aqui só fazemos fugir, por alguns instantes, do leito letal. Aqui só corremos contra ele, o tempo. Corra também, corra! Mas sua pista, caro atleta corredor, atém-se ao corredor. Você se mata aos poucos. E só lembrar-se disso de vez em quando. Tempus fugit. Agarre-se a seu algoz.

A mosca volta e dessa vez minha paranormalidade não funciona. Roda em círculos sem finalidade alguma. Para quê? Como ela vive rodando feito uma, bom, feito uma mosca tonta e não faz mais nada? Será que ela é, essa mosca idiota que acaba de ameaçar entrar no meu nariz, mais sábia que eu? Será que é tempo que me falta pra perceber? Será que eu tenho esse tempo todo a perder? E quem quer saber? A vida é tão rara... Sabe, agora que o médico desligou o som e arranjou algo melhor para fazer e eu não, me deu vontade de ouvir de novo aquela música do Lenine, que eu nunca lembro o nome. Pois é, mas eu nem tenho o cd, nem sei o nome da música. Paciência.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Passei. Passo. Passarei.

Eu, no centro, no meio, no ponto exato, em equilíbrio.
Por que custa tanto alcançar esse lugar? Por que passar por tantos testes, por que se permitir tais testes? Ora, quando temos em mente que é esse o lugar onde queremos estar, não poderíamos simplesmente chegar lá sem precisar passar por testes? Sem precisar pôr conhecimentos na mesa e retirar sofrimentos da bagagem, sem fazer auto-avaliações, sem se prender a projeções?
Sou acostumado aos extremos, aos 8 ou 80, ao “tá tudo ótimo!” – “tá tudo péssimo!”
Ando entre os extremos, sempre andei. Cansei.
Hoje eu procuro as características comuns entre os extremos para me manter sob distância máxima. Recorro à bagagem bagunçada das minhas experiências extremistas pra chegar a um lugar de conforto do qual eu possa chamar de meu. Um lugar do qual eu possa sentir a segurança tão almejada pra poder falar, sem medo de me arrepender, um sim ou um não. Sair do talvez, sair do “quem sabe”, sair do “vamos ver”, “vamos tentar”. E é na certeza da ausência dessa segurança que sinto o quão necessário se faz o estudo do fruto obtido através das experiências vividas, do conhecimento adquirido, a degustação proveitosa do sabor que só você vai conseguir definir. É seu! É colheita da sua plantação! Use-a para fazer bem a você.
Censurar a vida em excessos não é o que eu quero fazer, afinal, eu precisei passar pelos excessos pra saber que neles eu não me enquadro. Precisei gastar demais, projetar demais, amar demais e odiar demais pra saber que eu não preciso do “demais”.
Uma vida vivida intensamente tem lá suas coisas boas, contudo, te priva da segurança – seja essa qual for: a financeira, a afetiva, etc.
Falo aqui da segurança que nós somos incentivados a buscar desde que tomamos conhecimento de que viver custa caro, meus caros. O passo em falso hoje, resulta na queda em um buraco do qual você (sem boa preparação) jamais vai conseguir sair sozinho. A mesma segurança que se faz necessária no uso do bom discernimento a situações das qual você jamais imaginaria passar.
Por esses dias tenho me assemelhado a um balão prestes a alçar vôo. À medida que você vai enchendo o balão, se o mesmo não estiver bem preso e munido das coordenadas corretas de pouso, a tendência é que alce o tão desejado vôo de maneira impulsiva; sem se preocupar onde, quando e como irá pousar.
Nesse caso, o que faz com que o balão voe apenas no momento exato?
Os pinos que predem-no ao chão. Esses pinos representam hoje em dia as minhas ambições, a minha família, os meus amigos, os meus planos de vida e principalmente: as minhas experiências extremistas que, quando juntos, me auxiliam e me guiam ao caminho certo.
Tudo isso soa mais um texto auto-ajuda dentre milhares de outros existentes por aí.
Tudo isso na verdade não passa de um desabafo da minha consciência que – de maneira segura me afirma que aqui, eu to apenas de passagem, e cabe a mim - único e exclusivamente - dá um bom sentido a essa estadia. Amado as pessoas certas, projetando as coisas certas, discernindo sobre o que de fato é certo. No meu filme predileto, em um determinado momento, um dos personagens principais solta: “- Quanto mais você sabe quem você é e o que você quer, menos deixa que as coisas o perturbem.”
Eu sempre termino dizendo: “- É bem por aí, dona Sofia Coppola. É bem isso aí.”




sexta-feira, 6 de maio de 2011

Vice Versa'S'

Não vou ficar, obrigado.
Não agora que tenho paz e pressa.
Aceito o pão, mas vou seguir.
Há muita gente a ver.
Muita coisa pra conhecer.
Muitos vice versas.
Até.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Esse Filme Eu Já Vi

Muita comoção, muita lágrima, ok. Não vou discutir respeito ou se as pessoas que dizem “sentir muito”, realmente o sentem. Eu me pergunto onde vai parar “o luto de três dias” de hoje ou o “1 minuto de silêncio” em respeito às famílias, se a gente bem sabe como isso acaba, né? Dois anos é meu prazo pra essa tragédia de hoje virar sucesso de bilheteria nacional.

Obs: Sem QUALQUER RENDA, RESPEITO OU ALTERAÇÃO na atual conjuntura dos fatos, revertida pra família das vitimas.

Não desmereço lágrima, tão pouco não acredito que as pessoas de fato, não possam se comover. A questão é que a comoção por si só, sinto muito, não muda nada. E que mais uma vez, só o que se faz é falar e especular, pensar sobre possíveis formas de como resolver/evitar, achar culpados por trás do culpado e etc; ou seja, uma verdadeira sucessão de “esse filme eu já vi”.

O mais triste é que, pela milésima vez em que nós assistimos a esse mesmo filme, na esperança de que por algum intermédio - mesmo que divido - possamos alterar alguma cena, nós não passamos de espectadores, por tristes vezes, protagonistas. Triste é ter ciência - e mãos atadas – ao fato de que todos nós sabemos bem que o final é o mesmo, onde tudo permanece ABSOLUTAMENTE IGUAL.

domingo, 20 de março de 2011

Vice Versa

Tenho medo de te ver,
necessidade de te ter,
esperança de te ver,
pernas bambas ao te ter.
Tenho vontade de te encontrar,
preocupação ao te deixar,
certeza de te reencontrar,
pobre dúvidas ao te deixar.
Tenho urgência de te ouvir,
alegria ao te ouvir,
boa sorte de te ouvir,
e temores ao te ouvir.
Ou seja,
resumindo,
estou fodido
e radiante,
talvez mais o primeiro
do que o segundo
ou também
vice versa.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Permutação De Papéis*

Once i was a little girl, stuck in a harbour, waiting for my beloved captain to come back...

(...)

But then i decided i was the captain, so i stopped being the little girl.









*Originalmente escrito e publicado em 10/08/2008.
Integralmente necessária a situação da qual me encontro hoje.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Muito Tão, Mesmo Sem.

Enquanto tem tudo,
Você fica sem.
E quando não tem,
Fica com.

Porque um tudo é muito tão,
Mesmo sem.
E outro tudo é muito meio,
Mesmo com.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Costurando

O que eu poderia oferecer seria tudo:
casa & coração, cama & fantasias.
E depois, comida, anjos & santos,
música, poesia & flores na mesa.
Se você cedesse alguns milímetros,
eu moveria mundos.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dedos Que Sentem

Eu choro pouco. E agora estou me entendendo um pouco mais.
Sabe a sensação de vontade de chorar sozinho, sem ninguém perguntando por quê? Por que. Apenas por que. Nem porque sim, nem porque não.

Essa vontade de sair correndo e chorar sem me fazer perguntas eu também tenho. Mas meus olhos são secos como o lado de dentro de uma vidraça que mostra a chuva. Eu tento manter-me no lado de dentro, mas meus dedos estão sempre do lado de fora. É lá que não contenho as lágrimas e derramo-as em forma de palavras. Faço-as escorrer pelos dedos, melosas e abundantes como as mortes súbitas das guerras, rápidas como um tiro.

Eu também fecho os olhos quando o sentimento dá piruetas no peito, mas não saem lágrimas, saem palavras. Eu também soluço, mas ninguém percebe; são vírgulas, pontos e às vezes os inevitáveis pontos finais.

Parágrafo, letra maiúscula. A febre que parece me queimar arde nas mãos. Enxugo-as, grandes e vermelhas; assopro a palma da mão. As unhas quase não crescem mais e isso não é um problema. Hora ou outra as unhas acabam mesmo.

Ouço umas dessas músicas tristes que existm no mundo e, quando meu ouvido grita clamando por piedade, vejo que há sempre alguém um passo mais próximo do abismo que eu. Mesmo que minhas pernas já tenham balançado trêmulas, raladas e impotentes no batente da janela do prédio. Mesmo que já tenha sido por várias vezes tentado a entrar numa floresta e não voltar mais.

Tenho medo de andar perto de florestas porque elas sempre me chamam e quase me sugam e eu sempre quase vou. É como se o meu amor de perdição me chamasse para subir na garupa de sua moto para rodar o mundo sobre duas rodas e uma paixão. Na hora, meu coração sairia à frente de meu peito, desesperado, puxando o resto do corpo como um cavalo puxaria uma senhora idosa. Mas a cabeça, essa senhora idosa, é pesada demais. É o anticlímax do ultra-romantismo. Ela sabe que o coração quer aquilo para sempre naquele minuto. E não aquele minuto para sempre.

Ela carrega consigo a sabedoria dos sofridos e mutilados, ela foi castigada ao receber a habilidade de se lembrar. Memória é a verdadeira bola de chumbo presa aos pés dos sentimentos mais agudos.

Sou uma senhora idosa com uma bola de chumbo presa aos pés e a terra, presa as rédeas de um cavalo alado desenfreado e selvagem nas mãos, querendo alçar vôo. E é por isso que dou vazão a esses sentimentos todos escrevendo freneticamente. Quando escrevo, sou apenas um cavalo galopando de olhos vendados em busca de... - nem ele sabe o quê.
Apenas galopando, arfando e sentindo que algo fora de seu controle o faz relinchar. O equino pode achar que cavalgou milhares de milhas, mas quando lhe tiram a venda, percebe que a senhora idosa continua presa à bola de chumbo, serena. E que a paisagem ao seu redor não mudou.

Não, eu não estou chorando. Repito: estou escorrendo pelos dedos.
Às vezes odeio meus dedos por não serem tão precisos.
Às vezes amo-os porque poderiam errar mais, mas acertam.

Na maioria das vezes eu nem noto que são dedos escrevendo. Eles são meras extensões de minha cabeça estranha. Como os galhos mais finos de uma árvore de copa bem larga. São as últimas folhas de milhares de outras, mas são as que transbordam as gotas d’água depois da tempestade. Comigo também é assim. A chuva cai sobre minha cabeça e os últimos vestígios do temporal, geralmente a arma do crime, são meus dedos. Eles tardam a secar e eu tenho vergonha porque todos vêem. Agradeço, porém, pelo fato de que ninguém nunca vê e nunca sabe qual o estado das raízes. Nem mesmo eu.

Mas é assim que tem de ser.
Não é genuíno mergulhar literatura na vida.
Há que se mergulhar a própria vida na literatura.
E isso é uma doce maldição. Saímos do mergulho encharcados de sangue, alegria, dor, lágrima, suor e porra.

É um preço alto, eu sei. Mas se puder fazer um arrendamento, juro que quero pagar.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Por Hoje

Estou com saudades de algo que ainda não aconteceu.
Estou com saudades de alguém que nunca vi.
Estou com saudades do cheiro que ainda não senti.
Estou preso no passado pensando no futuro.
Estou vivendo o meu passado e não sei.
Sinto a saudade débil das pequenas escolhas.
Das pequenas dúvidas.
Dos grandes pequenos problemas da infância, à época dos pequenos grandes dilemas.
Sinto saudade do porvir.
Sinto saudades do sentir saudades.
Sei que quando eu for embora, aí sim, sentirei de fato saudades do que foi.
Por enquanto, sou o passado pensando no futuro.
No futuro de saudades reais.
Por enquanto, sou um cara com saudades de algo que ainda não aconteceu.
Chamem isso do que quiserem.
Eu chamo de solidão.
Apenas por hoje.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Estranho É Não Se Achar Estranho

Você se olha no espelho. Não se acha bonito. Pelo menos não da mesma maneira que os outros o acham bonito. Agora você está estranho. Parece que a pessoa que está em frente ao espelho não é você. Mas é. Ou, o contrário: de repente você está bonito demais! Estranho a própria pessoa não se reconhecer em frente ao espelho. Estranho o fato de a gente não se achar bonito ou feio como as pessoas nos acham. Eu, por exemplo, nunca me apaixonaria por mim mesmo. A não ser que eu fosse narcisista... Sim, pois para que isso me acontecesse, eu teria que ser narcisista muito além do que eu já sou.
Estranho também como uma pessoa não se reconhece vendo-a a si própria em um vídeo. A pessoa nunca percebe (ou admite) que tem aqueles trejeitos e de imediato fica a pensar a respeito. Será que meus amigos me acham estranho como eu estou me achando agora? Nem parece que esta pessoa sou eu... Às vezes você pergunta a eles, e eles te respondem: Ah! Isso é normal. É, é normal. É normal se achar estranho. Experimente escrever algo, qualquer coisa. Guarde e leia daqui a alguns anos. Fica parecendo que não foi você que escreveu. E daí, outra vez você sente aquela sensação estranha. Às vezes você se odeia por ter escrito tanta besteira, ou, melhor ainda, você se acha o máximo por ter escrito aquilo.

E quanto a ouvir sua própria voz em uma gravação? Não, o gravador não está estragado, meu caro.
É que a sua voz não é tão bonita quanto você pensava... E isso, soa estranho.
Jogar jogos mentais também é estranho. Você nunca ouviu falar dos jogos mentais? Já sim, pois a maioria das pessoas pratica. Às vezes, talvez, você não está ligando o nome ao jogo. Eis alguns exemplos para ajudar:

• Fila do banco: Enquanto espera, procurar ter uma idéia boa de como assaltá-lo. Uma idéia em que você não precise matar ninguém, ou que não precise de tantos investimentos. Se não conseguir, você pode continuar. Se conseguir... Quem sabe não seria a hora de mudar de vida?

• Quando está andando: Na rua e/ou em qualquer lugar, ver uma pessoa qualquer e pensar em opções parecidas como essas: uma noite e nada mais; casamento; namoro (com direito ou não de passear pelo shopping); ou, no pior dos casos: nem pelo capeta.

• Falar sozinho: O complicado é que, depois de muita reflexão, percebi que poucas pessoas realmente falam sozinhas. A maioria delas imagina uma situação e a coloca pra fora verbalmente. Porém, quem ver de fora, acha que a pessoa fala sozinha. Eu, particularmente, sou adepto à segunda opção. Às vezes, quando alguém me flagra, eu finjo que estou cantando, porém poucas pessoas acreditam.

• Simular situações: Se ferrou. E se ferrou tanto que agora imagina como seria se fizesse outra coisa. Talvez se mudasse de atitude, se pudesse voltar no tempo e fazer tudo diferente... Às vezes a gente nem precisa se ferrar tanto para simular uma situação. Até porque nesse jogo da simulação vale tudo. Desde se imaginar um herói, passando por um artista, até viver junto com uma pessoa que você ama.

Isso tirando outros “jogos” que não estou me lembrando agora...
O mais interessante de tudo isso, é que nos estranhamos quando fazemos essas coisas estranhas. E o mais estranho é que quase todo mundo faz o estranho. Logo, o estranho é não fazer isso. Aí vocês me respondem: Isso é lógico, idiota!
E talvez seja. Mas a lógica não é lógica para muitos. Soa estranha para muita gente, inclusive pra mim.
Certo, certo... Então você é uma daquelas pessoas normais; daquelas que não se identificam com o que falei acima. Tudo bem, isso não é errado. Se bem que até o certo e o errado de vez em quando pode soar estranho.
Mas... Sem querer te desapontar, uma pessoa como você, que nunca fez nada dos temas acima, soa, digamos, estranho pra mim...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Teu Coração, Meu Oceano

Quero chegar ali e ficar junto as pedras.
Mergulhar quando sentir que o corpo pede.
Procurar os peixinhos e acompanhar os cardumes.
Treinar os pulmões pra nadar e nadar sem nunca cansar.
Tomar sol e apreciar o fim do dia.
Sem mais nenhuma dor... Só o sabor do sal.


E me deixar ali... Pra sempre.