quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Simples Pretensão

Certo dia, conversando com um dos meus irmãos, resolvemos que iríamos abandonar o corte de cabelo a tesoura e passaríamos a cortar o cabelo com máquina. Sempre falávamos sobre a praticidade do corte com máquina e queríamos experimentar.
Pois bem.
Passado certo tempo, perto da época de natal, (nós já estávamos totalmente habituados com a idéia do corte a máquina) comecei a pensar que gastávamos uma fortuna (exagero meu, claro) pra ir a um barbeiro passar a máquina no cabelo. É que um de nossos vizinhos, o Diogo, tinha acabado de comprar uma dessas e nos ofereceu emprestada, para que se caso nos ficássemos interessados, ele nos daria todas as dicas a respeito do melhor modelo, marca, etc.
Nós então - totalmente empolgados - numa tarde de sábado, corremos pra casa do Diogo e aceitamos a oferta que ele havia nos feito. Antes de qualquer outra coisa, pensamos:
“Nossa! A gente aprende a usar e pede pra nosso pai nos comprar uma dessas! Adeus a fila de espera no barbeiro!”
Como meu irmão iria passar o natal e o réveillon com a namorada que ele havia conhecido no carnaval do mesmo ano e até então não tinha a visto mais (calma, a guria é do Rio Grande do Sul, tchê!), me ofereci pra dar um trato na cabelama dele.
“É de graça e é tão simples” – pensei.

- Tem certeza de que você sabe usar isso mesmo?

- Claro! Mais fácil? Impossível!

- Tá bom, então. Olha, o barbeiro passa máquina três geralmente.

- Ah, tá na mão!

(Din-don!) – Péra aí que estão tocando a campainha. – Disse o Diogo – (Minutos depois) - Ah bobagem! Era um pessoal querendo informação. Vâmo lá pro banheiro pra não fazer bagunça na varanda.

- Sento aqui no vaso mesmo?

- É. A altura tá boa pra mim.

- Como é que eu vou ver como está ficando?

- Mas desse lado você não enxerga o espelho mesmo... Que diferença faz?

- É.

- Vai ficar igual! Confie em mim!

Ajustei a máquina. Meu irmão com os olhos fechados, pronto para o estrago.
Sim, estrago. Não sei por que desvio do destino – pode ter sido a campainha – no lugar do pente três coloquei o pente número um. E não sei por que desvio maior ainda, dei a primeira raspada bem no meio da cabeça, na frente! (...)

- Opa!

- O que foi menino?

- Nada não. Fica quieto aí.

Eu não podia me conter. O meu irmão tava parecendo o bozo! Abri um buraco no meio da cabeça dele e logo dei uma olhada rápida pra máquina constatando o meu erro.
Eu ria abafado, as lágrimas escorrendo pelo canto dos olhos. E ele:

- O que merda tu ta fazendo?

- Nada não menino; só comecei pelo meio da cabeça, ficou engraçado...


- Ah, bom...

Nesse exato o momento, o real culpado – o Diogo, claro! – aparece na porta e sai correndo pra se desmanchar em gargalhadas na sala.
E eu, já que havia começado errado, ia assim até o fim. Afinal, eu tinha que entregar o trabalho pronto. Não era bem o que ele queria tampouco o que ele pediu, mas ia ter seu charme... (principalmente porque não era em mim!)
Pra não assustar meu cliente-parente, ou melhor dizendo, paciente, ou melhor ainda dizendo, cobaia, fui falando no finalzinho do corte:

- Tá ligado o que a gente vai ter que fazer quando passar no vestibular?

- Por que, hein, menino?

Pelo tom, notava-se o grau de “satisfação” do rapaz.

- A gente tem que raspar né? Bem curtinho...

- O que você fez?

- Mmmmm... Veja.

- PUTA QUE PARIU!

- Ah, ficou bom... Você tá mais jovem!

- Eu sou jovem, idiota! Eu tô é careca!

- Careca não! Máquina um!

- Mas eu falei que era máquina três!

- É, falou, mas aí não sei por que comecei a cortar com a máquina um que eu iria usar pra fazer o acabamento...

- PUTA MERDA! Luíza vai me achar horrível!

- Vai não! Ficou bonito!

Enquanto isso o Diogo – o real culpado! – rolava no sofá da sala de tanto rir.
Ele – o meu irmão – saiu pisando duro. Aí eu percebi que ele tinha realmente ficado “chateado” (pra não usar outros termos...) comigo.
Antes que ele chegasse em casa, eu liguei e pedi pra minha mãe elogiar o corte de cabelo no exato momento em que o visse!

- Por que, Rodrigo? O que tu fez?

- Eu acho que cortei demais...

Quando cheguei em casa, a confusão tava feita: meus pais e meu irmão chateados comigo por culpa desse “acidente”
Coitado, passou uma semana se lamentando e torcendo pra namorada não dizer logo de cara: “O que aconteceu com teu cabelo?”
Ainda bem que foi sensível e nem comentou nada. Eu fiquei chateado por um tempo, sempre que me lembrava disso... Hoje, eu e ele rimos bastante desse caso...
Ficou de lição o seguinte: mesmo as coisas mais simples, as coisas que parecem descomplicadas; precisam ser feitas com total atenção.
Hoje em dia também, eu consigo separar bem a minha capacidade do meu limite.
Eu sei que o posso fazer... Mas até quando posso? Até quando devo? Será que realmente posso?
E essas perguntas eu levo a qualquer tipo de situação, principalmente, aquelas que eu acho que tenho total domínio.
Seja por pretensão, por desprezo ou pelo o que as situações realmente são e/ou pedem:
A circunspecção.


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1 comentários:

Abelardo disse...

HAHAHA, hilário! é uma pena que eu não tenha esse tipo de crônica na minha vida :T