sexta-feira, 6 de abril de 2012

Carta De Amor

Medo não me alcança, no deserto me acho.
Faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampo.

Pensou que eu ando só? Atente ao tempo. Não começa, nem termina, nem nunca é sempre.

Eu não provo do teu féu, eu não piso no teu chão e pra onde você for, não leva o meu nome não.

Onde vai, valente?
Você secou.
Seus olhos insones secaram.
Não ver brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira?
Seus ouvidos se fecharam à qualquer música, qualquer som.
Nem o bem, nem o mal, pensam em ti.
Ninguém te escolhe.
Você pisa na terra mas não a sente, apenas pisa.
Apenas vaga sobre o planeta e já nem ouve as teclas do teu piano.
Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona; não tem alma.

Você é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.

O que é teu já tá guardado. Não sou eu que vou lhe dar.

Eu posso engolir você só pra cuspir depois.
Minha forma é matéria que você não alcança.
Desde o leite do peito de minha mãe, até o sem fim dos versos, versos, versos, que brota no poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi.
Se choro, quando choro a minha lágrima cai é pra regar o capim que alimenta a vida. Chorando, eu refaço as nascentes que você secou.
Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio.
Vivo de cara pra o vento na chuva e quero me molhar.
O terço de Fátima e o cordão de Gandhi, cruzam o meu peito.
Sou como a haste fina que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta.


Não mexe comigo que eu não ando só.





Maria Bethânia & Paulo César Pinheiro

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