sábado, 29 de dezembro de 2012

Dos Diálogos Nº 5


- É, vou mesmo me mandar.

- Por que você diz isso agora?

- Porque agora, dia após dia, andam acontecendo coisas que cada vez mais me mostram que o melhor que eu faço é pular fora e tentar enxergar o mundo novamente, com outros olhos.

- Mas você não pode fugir.

- Não, eu não tô fugindo. Quero conhecer o mundo. Esse sobre o qual tanto falamos. Tenho a sensação de que não o conheço. Tenho a sensação de que já cheguei ao ponto de saturação dos meus sentimentos. Tudo o que eu podia sentir, já senti e que nada é novo, tudo apenas se repete, em diferentes escalas de intensidade.

- Você precisa se apaixonar.

- Pára com isso! Tô falando sério!

- Eu também! Acho que você precisa viver mais e pensar menos.

- Não é isso que me fará feliz.

- Claro que é!

- Claro que não! (...) Falar que felicidade é deixar de pensar, é dizer que felicidade é apenas a negação da infelicidade, e se for pra ser assim, eu e Schopenhauer podemos dar os braços e sair idolatrando o pessimismo pelas trevas e esquinas da vida.

- Caralho! Seu problema é que você pensa demais!

- Acho ridículo falar que isso é um problema! Como pensar pode ser prejudicial?

- Você só não percebe que pode ser prejudicial porque precisa pensar e entender tudo.

- Falou bem, eu PRECISO. Se não chegar, PENSANDO, à conclusão de que existe felicidade, não chegarei à mesma conclusão por nenhum outro meio.

- Sabe do que você também precisa? De coisas mais mundanas.

- ?

- Isso mesmo! Vai assistir Bridget Jones, seriado da Sony, ler a revista Caras!

- Mas isso não é me agrada, afora alguns seriados da Sony. Não vou me forçar a fazer o que não gosto, principalmente sendo algo inútil.

- Você parece um personagem tirado de um filme. Parece que sua vida é um filme. Parece que você se sente filmado o tempo todo e precisa atender às expectativas de quem te assiste.

- Mas todo mundo é assim. Você, por exemplo, só está falando isso porque também pensa a mesma coisa. Todo mundo pensa isso. Começamos ainda crianças e à medida que crescemos, a mania de se vigiar só aumenta e continua.

- Mas você parece querer fazer da sua vida um drama. As coisas tem que estar maravilhosas ou péssimas. Nunca um meio termo.

- Isso é verdade, sempre fui muito radical.

- Então!

- Mas se tudo o que você está me dizendo é para me convencer a não morar fora, esquece. Eu preciso ir atrás do sentido da minha existência e você, como bom behaviorista, sabe que isso não está dentro de mim, e sim no ambiente. Então é isso, vou atrás da ampliação do meu ambiente. Ando meio sufocado.

- Fato é no fundo eu até admiro sua determinação e me pergunto por que eu não consigo sentir esse amor à vida como você. Eu não tenho essa vontade toda de conhecer o mundo.

- É porque o mundo que você criou já te satisfez. Sorte sua.